nova york é um lugar estranho
aqui vai um potencialmente tedioso relato de como eu fui parar no Music and Audio Research Laboratory (MARL) pra fazer um mini estágio de verão. eu não achei que essa experiência poderia acontecer comigo, mas já que ela aconteceu eu decidi que iria falar dela.
como começou
a IEEE1 tem uma sociedade específica de processamento de sinais chamada IEEE SPS2 (IEEE Signal Processing Society). essa sub-sociedade lançou um programa ano passado chamado de Mentoring Experiences for Underrepresented Young Researchers, carinhosamente chamado de ME-UYR3. a ideia desse programa era juntar pesquisadores em início de carreira com profissionais experientes a partir de seus interesses. cada par então submeteria um projeto que deveria ser desenvolvido no decorrer de 9 meses e culminaria em uma publicação que deveria ser enviada para alguma das conferências da própria IEEE.
pois bem, dito tudo isso, uma pesquisadora incrível chamada Magdalena Fuentes, que eu tive a chance de conhecer por meio do programa de mentoria do Woman in Music Information Retrieval4 (WiMIR) se lembrou de uma conversa que tivemos e decidiu me chamar pra pensarmos em um projeto juntas. o projeto foi aprovado e ganhamos um fundo de 4 mil dólares que poderiam ser gastos em visitas ao laboratório da sua mentora e na viagem para a conferência na qual você submeteu seu artigo. a título de completude da informação, estamos mirando no ICASSP20235.
como foi
sem tecniquês
Nova York é uma cidade estranha e barulhenta, tem o metrô mais fedorento que eu já vi na minha vida inteira e uma comida muito mais apimentada do que eu esperava, mas ainda assim eu tive uma experiência incrível.
dei a sorte de ir bem no verão, então tinha muita coisa gratuita acontecendo e eu aproveitei isso um monte porque o dólar estava quase 6 reais. pra ajudar, minha orientadora me deu uma bicicleta velha dela e aí nada ficou no meu caminho. eu ia pra cima de pra baixo de bicicleta. fui a muitos shows de graça, como os show do Celebrate Brooklyn e isso por si só já foi muito interessante. eu morava pertíssimo do Prospect Park, então todo fim de semana eu tava lá lendo um livrinho ou indo em qualquer show que tivesse rolando.
fui na parada LGBT e entrei na Annual NYC Dyke March, que era uma sub-parada só de lésbicas. no meio da galera, tinha uma bateria bem animada e foi muito divertido.
visitei alguns pontos turísticos, fiz alguns free walking tours6 e ouvi algumas histórias legais, comi umas comidas muito duvidosas que eu com certeza não comeria em outro momento e me deparei várias vezes com apresentações acontecendo em algum parque do nada.
no geral, conheci gente nova e troquei muita ideia, botei meu inglês pra jogo e fiquei frustrada por não saber falar exatamente o que eu queria, comprei uma camiseta legal de um time que eu nem sei a qual esporte pertence, vi esquilos e por fim morri de saudade de casa e tive que achar uma festa junina por lá mesmo (e eu achei!).
com tecniquês
eu passei dois meses podendo focar apenas em pesquisa e entendendo como é o dia a dia de quem trabalha com isso. foi assustador e inspirador ter na minha frente um monte de possibilidades que eu podia explorar, sem saber direito o que daria ou não resultado. me motivou muito estar rodeada de pessoas que são muito mais inteligentes que eu. me faz querer ainda mais.
tecnicamente falando, consegui fazer muita coisa e aprendi demais. ter 8h por dia a mais pra focar no projeto fez com que avançasse muito. consegui gerar bastantes experimentos e aprendi bastante sobre Keras e Tensorflow ao botar a mão na massa e debugar meu próprio código. inclusive aprender a debugar o código de redes neurais foi novo pra mim porque o modelo estava treinando, mas os resultados não fazia sentido. nunca era um problema do código em si.
inclusive, aqui está o meu código. estou refatorando ele pouco a pouco7 porque agora ele virou meu projeto de pesquisa no mestrado.
como está sendo
depois que voltei, continuei trabalhando no projeto num ritmo muito menor. basicamente, parei de implementar experimentos novos e comecei a focar no artigo que submetemos no fim do ano passado ao ICASSP. essa parte da experiência foi muito maluca também.
consegui ver ao vivo várias mentes muito brilhantes funcionando e discutindo como propriamente fazer um artigo, qual seria a história que gostaríamos de contar e como condensar 9 meses de trabalho em 4 páginas contando as figuras. agradeço muito pela oportunidade de colaborar com pesquisadores tão experientes e de aprender tanto.
como será
submetemos o artigo, recebemos as revisões e já as respondemos. agora é esperar. independente da publicação, vou conseguir atender à conferência presencialmente, o que é incrível porque vai ser na Grécia! tô animada demais.
além disso, vou visitar o Uruguai esse ano também pra uma outra conferência de Aprendizado de Máquina na América Latina, a KHIPU8.
qual o fim?
longe de mim ser uma pessoa gratiluz-namastê-etc, mas nesse caso eu sou muito grata sim. parece que constantemente encontro pessoas que estão dispostas a ver algum potencial em mim e fomentar essa minha vontade de fazer pesquisa de qualidade. tem oportunidades que a gente só não pode deixar passar e essa foi uma delas.
se eu pudesse dar um conselho me baseando apenas nessa oportunidade doida que eu tive, diria que nada aconteceu só porque eu sou uma pesquisadora incrível. longe disso, eu tô apenas começando. isso aconteceu porque eu botei a cara a tapa e aí uma pesquisadora incrível (obrigada, Magda!) se lembrou de mim.
acho que isso é facilmente generalizável pra outras coisas. não importa se você tá começando, mete a cara e conheça pessoas. embora seja difícil acreditar, as pessoas vão se lembrar de você.
por fim, meus colegas de Nova York me deram o livro do Fundamentals of Music Processing e eu chorei igual um neném. agradeço muito a todas as pessoas que me ajudaram aqui no Brasil e fora dele.
bom, acho que é isso? nunca saberemos.
tchau!