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carol e o fim do mundo

um disclaimer rápido: esse texto vai ter spoilers de tudo que é possível se ter spoiler da série Carol & The End of the World.


carol & the end of the world é uma série da netflix que retrata a história de um mundo no qual um planeta massivo vai entrar em colapso com a terra. diante da morte iminente em 7 meses, todas as pessoas do ficaram viciadas em viver. dinheiro não significa mais nada, todo mundo faz o que quer, corre atrás dos sonhos que há muito foram abandonados e deixa a vida levar.

todo mundo menos a Carol. a Carol não sabe direito o que fazer ou como lidar com essa situação toda, então ela literalmente finge que nada está acontecendo e segue com a rotina dela. os seus pais (que vivem pelados e agora estão em um trisal com o seu enfermeiro) tentam incentivar ela a achar um hobby, sua irmã frequentemente manda vídeos à família, mostrando todas as coisas radicais e diferentes que ela está fazendo ao redor do mundo, mas a Carol… não. a Carol até tenta mentir pros pais e dizer que está surfando, mas a verdade é que ela não sabe o que fazer da vida. os dias vêm e vão e a Carol continua ignorando o fato de que sua vida tem menos de 7 meses pra acabar, até que um dia ela descobre que existe um escritório de contabilidade que está funcionando a todo vapor. ninguém lá dentro sabe como funciona, mas o escritório funciona.

não é de se espantar que a Carol fique encantada com a ideia e prontamente comece a trabalhar lá. o espantoso é que ela novamente começa a ver algum sentido na vida. a partir daí a série se desenrola de uma maneira muito particular e aí só vendo pra passar pela experiência. eu gostei muito da série e algumas ideias ficaram rondando a minha mente enquanto eu a assistia.

em primeiro lugar, quero discutir o princípio da série: se nada mais importasse e você soubesse que tudo vai acabar em 7 meses, o que você faria? pra além disso: você conhece alguém que trabalharia?

o trabalho como identidade

se uma pessoa se define pelo seu trabalho, a partir do momento que seu trabalho deixa de existir acontece o que? a pessoa deixa de existir também? a crise é óbvia: você não se conhece o suficiente, ou não quis se conhecer o suficiente a ponto de saber o que você é pra além do trabalho.

as pessoas se jogam de cabeça no trabalho por vários motivos, desde o desejo de construir uma grande carreira até a rejeição da própria casa. gente que não suporta estar em casa e por isso faz a única coisa na qual se sente à vontade, que é trabalhar.

pra mim, isso é muito triste, mas pra Carol o trabalho foi literalmente o que fez com que tudo tivesse sentido de novo. foi por causa do trabalho que ela conheceu pessoas como ela e, no fim, foi por causa do trabalho que ela finalmente sentiu que pertencia à algo. todos ali por algum motivo estavam naquele escritório, trabalhando sem nenhum motivo pra uma empresa de contabilidade.

o trabalho como um lugar de construção de comunidade

quando eu comecei a assistir, imaginei um final completamente diferente do que de fato aconteceu. isso não foi ruim de nenhuma forma, porque eu achei que o final da série foi de uma nuance enorme e me deixou com um quentinho no coração.

quando Carol chega no escritório, ela vê algo bem padrão. pessoas sentadas em seus cubículos fazendo qualquer coisa que elas tenham que fazer ali. ninguém se falava, ninguém se conhecia, as pessoas só se viam. no decorrer da série, por um esforço intencional da Carol, ela começa a se aproximar das pessoas. primeiro ela faz uma amiga, então aprende os nomes de todas as pessoas do escritório e, quando percebe, eles estão todos em um happy hour.

isso me fez pensar muito sobre a construção da comunidade no ambiente de trabalho. no geral, a gente entende o trabalho como um lugar de competição, onde você tem que ser o melhor porque você tem que ganhar aquela promoção e etc e tal, mas na real que o trabalho também é um lugar de colaboração e é muito legal você se dar ao trabalho de conhecer as pessoas que compartilham aquele ambiente com você. são pessoas que você não tem obrigação nenhuma de gostar, mas que você tem que conviver e trocar com elas diariamente. por que mesmo assim às vezes a gente nem troca uma palavra?

um sentimento constante que tenho é o de que as pessoas ligam cada vez menos pra comunidades. amigos não surgem do nada e a gente precisa ser um pouco intencional na hora de começar a interagir com alguém. não existe “amizade de baixo custo”. isso não é amizade de verdade. e mesmo que você queira morrer trabalhando, que você faça isso com pessoas que gosta ao lado e que tenham uma escolha similar à sua.

a série é bem curtinha e eu gostei bastante, acho que vale a pena assistir ao menos ao primeiro episódio.

enfim, isso aqui é um texto meio escrito e sem revisão com algumas coisas que me vieram à mente. obrigada a quem leu e tchau!